Bate papo com o Líder

Paula Bianchi Romer
Esse espaço é especialmente reservado para você que é líder, conselheiro (a), orientador (a), professor (a) e até mesmo pais que lidam com o Adolescente. O objetivo é ajudar você neste ministério especial, e para tanto contamos com a ajuda nestes textos da irmã PAULA BIANCHI ROMER, membro da Igreja Presbiteriana do Brás (São Paulo, SP), psicóloga e psicopedagoga, além de ser obreira do Ministério PAVI (Preparando o adolescente para a Vida). Vamos desenvolver o assunto em 5 conversas. Aproveite cada uma delas. Sejam bem

Conversas

Quem é o adolescente com que trabalho?

A adolescência não representa uma fase super especial da vida como tem sido propagado nos nossos dias. Já repararam que na Bíblia não se fala de adoelscência? Esse termo começou a ser usado somente após o século XVIII, até então havia crianças e adultos. Cristo mesmo, quando foi apresentado no templo por José aos 12 anos (Lc 2.41-50), deixou de ser um menino e passou a ter privilégios de adultos.

Não podemos dizer que conhecemos e sabemos como é o adolescente se não procurarmos conhecê-lo por completo, muitas vezes nos baseamos em comentários de outras pessoas ou nos fixamos em experiências isoladas com um ou outro adolescente e a partir daí, tiramos conclusões para todos os outros – isso certamente gera pré-conceitos, erguendo pontes nos nossos relacionamentos.

Todo líder tem que ter bem claro que ao conceituarmos os adolescentes, iremos encontrar tanto qualidades quanto dificuldades em cada um deles (como encontramos em nós também), porém, não podemos deixar que a visão da adolescência perca o equilíbrio e se supervalorize algum ponto positivo ou negativo, porque se fizermos isso, estaremos olhando para o adolescente com uma visão distorcida da realidade que é composta dos dois aspectos. Sim, alguns são muito agitados, mas nem todos são e mesmo os que são agitados, não o são o tempo todo, logo, é um erro generalizarmos qualquer aspecto da adolescência.

Vamos manter nosso olhar no ponto de equilíbrio, observando a realidade de cada adolescente e ensinando-os a ver assim também.

O problema central é que na adolescência não é um aspecto só que está mudando, são muitos! Isso realmente causa certa confusão para eles e claro, para nós que convivemos com eles.

A adolescência, segundo a Organização Mundial da Saúde, se situa entre 12 e 17 anos e ela inclui a puberdade (mudanças físicas) e também, áreas como: emoção, social, espiritual, intelectual. Aspectos que eram tão simples e passageiros na infância agora trazem tantas dúvidas, sentimentos que nunca existiram e que agora os abatem e aos quais eles nem sabem nomear. As questões sociais, o convívio com outros adolescentes, estilos de vida (até familiar) apresentando-se como outros modelos além do seu.

Vejam como é complexo o que acontece nesta passagem da vida. Nós já passamos por isto também, embora numa época diferente desta atual, mas também experimentamos essas mudanças. Eles estão adolescendo, ou seja, estão crescendo. Este é o real significado desta palavra: crescer. Crescer rumo à fase adulta.

Para conquistarmos a confiança e a convivência com os adolescentes precisamos investir tempo conhecendo-os além do que se vê, temos que sair do plural e ir para o singular. Conhecendo cada um, sua realidade, sua história de vida. Conhecê-los com o Bom Pastor conhece suas ovelhas: Pelo Nome! (Jo 10.3,14).

Os adolescentes estão em “trânsito”. Passando da infância para a vida adulta. Esta indefinição existe, mas, com o passar dos anos, a situação vai se acomodando e ficando definida e madura.

Como líderes e pais podemos ajudar nesta passagem, sendo em primeiro lugar modelos a serem imitados, assim poderemos ensinar a lidar com as mudanças de uma maneira também equilibrada, sem exageros, buscando direcioná-los para a maturidade.

Os conflitos da adolescência

Conflitos surgem quando há a necessidade de escolha entre situações que podem ser consideradas incompatíveis, contrárias entre si. Todas as transformações que nós já vimos na conversa anterior causam conflitos mas eles são sem dúvida nenhuma, acentuados pela ação da mídia e das amizades. E a mídia funciona assim: quanto mais tempo estamos expostos a ela, mais ela “faz a nossa cabeça”. Destas ações internas e externas ao adolescente surgem basicamente 4 tipos de conflitos: Existencial, Emocional, Comportamental e Espiritual.

CONFLITO EXISTENCIAL – lembra da pergunta: Para que eu existo? Vivo para que?

A atração pelo mundo tem dado aos adolescentes novas razões para existirem, razões que procuram torná-los individualmente o ser mais importante da face da Terra. Vejam como a ação da mídia tem alimentado a razão deles existirem: o Materialismo ensina-os que ter é melhor do que ser, ou seja, a atração pelo desejo de ter, de satisfazer e do poder. Uma vida voltada para o consumismo e o bem material. / O Relativismo atual, ensinando que não existe uma verdade absoluta, tudo depende do ponto de vista…o que é certo? O que é errado? Qual o padrão? / O Humanismo divinizando o homem, o homem sendo auto-suficiente, o adolescente sendo auto suficiente, para que precisará de Deus?

CONFLITO EMOCIONAL – vivo de que tipo de emoção?

A Infantilização – tendência atual é manter os adolescentes infantilizados, só estimulando-os para o prazer, viver para o prazer, para se sentir bem. Afastando-os de frustrações e do desprazer, que maturidade emocional podem alcançar? / O superficialismo nos relacionamentos, nas amizades. A falta de sensibilidade com o outro, o que importa é seu sentimento. Amizades virtuais, ficar, etc. / O imediatismo apressando tudo o tempo todo. Não se pode esperar, tem que ser para agora. Tenho que me satisfazer agora, quero hoje… veja que impressionante um exemplo deixado na Bíblia em 2 Sm 13.1-15.

CONFLITO COMPORTAMENTAL – penso de um jeito, mas ajo de outro. As contradições entre o que eu creio e o que eu pratico.

A Dicotomia que mostra o divórcio entre fé e prática. Quando se professa uma coisa e se faz outra o que acontece é viver de aparência, uma encenação, uma maquiagem. / O individualismo mostra que pensar que fé é uma coisa e o que se faz ou deixa de fazer é outra é fruto de se contextualizar e acabar se mundanizando. / O Antinomismo é viver sem lei. Num mundo em que os valores estão tão invertidos por que com eles não aconteceria o mesmo?

CONFLITO ESPIRITUAL – ter uma religião ou ser regenerado

Tudo aqui depende de uma boa evangelização, mas se as boas novas da salvação forem ditas pela metade, dizendo só o que agrade ao adolescente, isentando-o de reconhecer seus pecados e se arrepender, teremos uma pseudo evangelização – algo para ajeitar a vida dele, para massagear e não transformar seu ser. Se temos uma pseudo evangelização, tudo o mais será neste estilo, ou seja, teremos uma pseudo conversão (nova religião e não novo nascimento), em seguida um pseudo crescimento espiritual que resultará numa espiritualidade falsa, onde se troca o vivencial pelo virtual.

Será que isto que abordamos não é suficiente para abalar a fé deles e trazer sérios conflitos para si e para os que com eles convivem? Próxima conversa falaremos sobre as soluções destes conflitos.

As soluções para os conflitos na adolescência

Apresentamos 4 situações de conflitos na vida dos adolescentes, agora pensemos nas soluções, porque afinal, elas existem! Aqui vem sim um grande desafio, que exige mudar o foco do adolescente da mídia, ou pelo menos, se não tirar o foco, fazê-lo considerar também as “coisas lá do alto”. Não existe solução de problemas sem Deus. Ele é nosso grande ajudador e por isso o adolescente deve aprender a voltar-se para Deus quando enfrenta seus conflitos.

SOLUÇÃO EXISTENCIAL – não tem outro jeito, quando nos perguntamos qual a razão de nossa existência, só deve haver uma resposta – existo para adorar e me alegrar em Deus. Sendo assim, tudo que a mídia tem ensinado fica lá embaixo em nossa lista de prioridades. O adolescente precisa aprender a deixar de amar o mundo, é um processo de desilusão e decepção com as mentiras que o mundo tem ensinado. É um retorno para Deus. É um processo de deixar Deus ser Deus. Há um duelo grande entre o eu e Deus, é preciso ir contra a corrente. Ou seja, voltar ao princípio onde devemos amar a Deus em primeiro lugar.

SOLUÇÃO EMOCIONAL – se o adolescente entendeu que deve amar a Deus em primeiro lugar e que esta é a razão maior de sua existência, então o coração dele já não será indomável, esse coração se tornará mais submisso e estará mais propício a trabalhar suas emoções, amadurecer seus sentimentos, discernindo, dando nome ao que sente, assumindo seus sentimentos e assim, buscando ser aperfeiçoado por Deus. Imagine deixar Deus dirigir seus corações, que desafio! Em Ezequiel 11.19, Deus nos diz que trocará os corações de pedra por corações de carne. Somente um adolescente quebrantado consegue chegar a este nível de transformação emocional.

SOLUÇÃO COMPORTAMENTAL – a solução para a vida dupla é passar a ter uma vida íntegra. Essa mudança acontece com a ação da graça de Deus em nossa vida. Todo líder deseja ter adolescentes que façam a diferença no mundo e não que façam igual ao mundo. Nossos adolescentes podem ser agentes. É importante trabalharmos o resgate da santidade proposital, aquela que se deseja ter por convicção e não por obrigação. Esse adolescente tem que estar ciente de sua própria identidade – raça eleita, sacerdócio real, povo de propriedade exclusiva de Deus. Sal e Luz e se comportar altaneiramente como tal.

SOLUÇÃO ESPIRITUAL – avalie sua turma e verifique quantos ainda parecem caminhar longe de uma conversão genuína, nascer em lar evangélico não significa nascer convertido. Reveja seu material de trabalho e invista na evangelização bíblica dos de casa. Para anunciar as boas novas da salvação precisamos falar de pecado, morte, crucificação, ressurreição, reconciliação e arrependimento. Qual evangelho está sendo pregado? Não desejamos ter adolescentes religiosos, que cumpram rituais, Deus se agrada de um coração sincero e que evidenciem sua espiritualidade no seu caráter, na justiça, na honestidade, no serviço etc…

Essa não é uma receita de bolo, dá muito mais trabalho o que apresentei aqui, porém, para eliminar os conflitos que o mundo tem asseverado no coração e no dia a dia dos adolescentes, a solução só será encontrada na nossa razão de viver, a saber, em Deus.

Ministérios com os adolescentes

Não entenda mal esta palavra Ministério que hoje iremos utilizar. É claro que não estou querendo substituir as sociedades internas da IPB por Ministérios. Isso já está bem claro que não funciona. Ministério é uma palavra bem interessante, mas usada de maneira incorreta inclusive em nosso meio. MINISTÉRIO SIGNIFICA SERVIÇO. Nem mais nem menos. Não é um estado especial ou algo de grande destaque, é SERVIÇO. Serviço que prestamos a Deus. Por isso somos ser servos. Líderes sim, mas acima de tudo, Servos de Deus.

Essa reflexão é importante porque os nossos conceitos e valores acabam determinando nossas ações, então, temos que acima de tudo, entender que todo ministério (serviço, atividade, programação) deve ter como objetivo principal alcançar as pessoas, no nosso caso, os adolescentes. Nada de pensar em concorrência na Igreja para ver que líder faz o melhor trabalho, sem disputas, nós temos é que aprender a trabalhar em harmonia, cada área ou líder visando o bem comum. Nem todos os ministérios vão durar eternamente, a maioria é temporal e estão sujeitos a adaptações. O que não pode mudar são os propósitos e os princípios existentes neles e isso certamente inclui agradar ao Senhor e não as preferências dos adolescentes.

Em nossos ministérios, lidamos com três estruturas que constituem o ser humano: a RAZÃO, a EMOÇÃO e a VOLIÇÃO, ou seja, desejamos atingir o seu pensar, o sentir e o seu agir. Existem certas atividades que fazemos onde trabalhamos apenas com um adolescente, existem atividades em que trabalhamos com todos juntos. Existem atividades que já estão programadas e constam até na agenda da igreja, e há situações onde inesperadamente surge a oportunidade de agirmos na vida do adolescente.

São esses últimos conhecidos como informais, eles não dão ibope, mas podem significar muito na vida do adolescente que necessita de uma visita, de um aconselhamento. Você como líder pode fazer diferença e marcar a vida do seu adolescente não só nas atividades coletivas (esporte, teatro, grupo de louvor, EBD, etc.), mas pode fortalecer sua fé individualmente também. Vejam algumas atuações para você elaborar seu planejamento do ano:

ATIVIDADES DE AÇÃO – aquelas que visam o próximo. Envolvem o fazer, as “boas obras”, a ação social. Com este tipo de ministério você ajudará a desenvolver sensibilização para com o próximo, compaixão para ajudar. Por exemplo: visitas e ações em orfanatos, asilos, cânticos em hospital, cesta básica, visita a adolescentes afastados.

ATIVIDADES DE EXPRESSÃO – visam a adoração. Ajudá-los a manifestar o que está em seu coração, deixar claro para eles para quem é a adoração (Deus). Vocês podem formar um grupo de teatro, conjunto musical, coral e outros.

ATIVIDADES DE FORMAÇÃO – aqui visamos o caráter. Uma boa parte destas atividades pode estar centrada no aconselhamento pessoal, mas também podemos trazer a eles palestras e estudos que visem a formação de seu caráter. Temas importantes para nossa ética pessoal, à imagem de Cristo.

ATIVIDADES DE RELAÇÃO – que visam uns aos outros. Comunhão, atividades que estimulem o relacionamento do grupo na igreja e até mesmo fora dela. O compartilhar, mutualidade entre eles. Aqui entram gincanas, passeios, dinâmicas de grupo, cultos ou estudos nos lares, festividades na igreja, intercâmbios com outras igrejas…

ATIVIDADES DE INSTRUÇÃO – visando o conhecimento e uso da Palavra. Escola Bíblica Dominical, EBF, células de adolescentes, palestras e estudos bíblicos.

“Um por todos e todos por um”

Digo isso para que você alcance seus objetivos com maior harmonia e colaboração. Vamos imaginar que no ministério com os adolescentes nós encontramos um quadrado e em cada lado deste quadrado uma unidade importante na igreja:

  1. Pais e os adolescentes
  2. A liderança da Igreja
  3. Os líderes dos adolescentes
  4. Os projetos a serem executados

Para que esse quadrado possa girar redondo e alcançar o alvo, é fundamental o envolvimento dos:

  1. Pais (tanto participado como apoiando), dos próprios adolescentes (pois sem eles não há trabalho),
  2. A liderança da igreja (agindo e vendo nos adolescentes um potencial para servir ao Senhor) e os
  3. Líderes de adolescentes (que devem trabalhar para se completarem usando o que tem para o bem comum, nada de competições ou boicotes). Uma liderança madura dá mais segurança ao adolescente, trabalha mais tranquila e se torna um modelo a ser seguido.
  4. Não tenha atividades para passar tempo, para entreter, ou porque tem que fazer, elabore as programações com um propósito a ser alcançado. As atividades nos são úteis para transformar também as pessoas de dentro para fora. Pense sempre na elaboração de cada programação – quem são as pessoas que serão alcançadas (todos os adolescentes? parte deles? só garotos? os amigos deles?) e , que propósito que deseja alcançar?

EVANGELIZAÇÃO – se seu foco é promover uma programação que gere evangelismo, conversão, caminhe neste sentido, conduza louvores curtos e fáceis de aprender para que os adolescentes também possam cantar, fale do evangelho com propriedade, pois essa semente é que vai gerar a decisão, entender o que Jesus fez por ele. Coloque os adolescentes da igreja para ajudar no projeto durante o culto ou evento. Por exemplo: culto ao ar livre, culto familiar, viagem missionária, trabalho social voltado para o evangelismo, EBF.

CRESCIMENTO – se o foco for crescimento espiritual, e a maioria de nossas atividades tem esse foco, você pode pensar em EBD, palestras, filmes com debate, culto ao ar livre, teatro, culto nos lares deles (e eles aprendendo a dirigir), discipulado, visitas com o grupo a outros adolescentes, todas as formas de adoração, comunhão, esportes, gincanas… Aprendendo com Cristo!

SERVIÇO – já fortalecido na sua fé, o adolescente chega ao ponto de servir a Deus, está dando frutos, para estes faça programações ou promova cursos dos quais ele possa aprender a servir melhor – treinamento (pense em suas habilidades), visitação com o líder, dirigir um culto/liturgia, delegue tarefas.

Para montar sua programação, elabore em primeiro lugar um projeto dele. Fica muito mais organizado e fácil de você visualizar a execução e o que será necessário para acontecer. Se você apresentar as atividades à liderança da igreja em forma de projetos, também demonstrará seu preparo e alvos a alcançar. Dê um nome a seu projeto e já classifique nele um dos 3 alvos acima a alcançar. Em seguida, elabore o programa, ou seja, do início ao fim, o que e como ocorrerá (ex: 9h início com oração e apresentação, 9h15 louvores, 9h30 palestra…etc) – isso o manterá centrado na proposta até o final. E claro, as pessoas que vai necessitar para lhe ajudar a conduzir tudo. Delegue funções, não segure tudo para si, o líder que quer fazer tudo sozinho não consegue fazer as coisas com prazer porque fica muito preocupado.